Acreditar
Sentia qualquer coisa a pressionar a mão mas não sabia se seria no sonho ou na realidade. O corpo, mergulhado numa inércia como se lhe tivessem sugado a energia, foi despertando lentamente até um barulho estrondoso o acordar por completo. Sem que tivesse controlado, caíra-lhe por entre os dedos um pedaço de seixo, tão liso, brilhante e colorido como seda.
Não se reconhecia na imagem que o espelho lhe apontava quando se sentou na beirinha da cama. Há algum tempo que não se sentia na sua pele mas ia seguindo como se acreditasse que não poderia permitir-se ao ir ao fundo e admitir que também era gente de carne e osso mas essencialmente de sentimentos, sonhos e frustrações.
Preferia manter a crença que era uma fase, emque tudo desmoronava é certo mas que não passaria de uma fase. Por vezes, às escondidas de si mesma, percorria lhe pela cabeça o pensamento de como é que a sua vida tinha ido parar a este estado de desprazer. Sempre fora uma mulher decidida, confiante e com metas traçadas que nunca ficaram por cumprir. Estudou o curso que sonhou desde menina de tranças, casou com o homem que escolheu, tinha a casa dos seus sonhos e tornou-se numa profissional de êxito. Todos os pedidos estavam saciados.
E então porque raio se sentia tão desprovida de tudo?
O coração tinha deixado de palpitar, batia agora um ritmo monocórdico.
Olhou para a pedra ali caída a seus pés e como quem faz um esforço épico dobrou-se sobre a mesma para a recolher. Por entre as linhas do arco iris podia-se decifrar: “Acredita e confia”.
Sentiu as palavras como um sopro quente na cara. Estava longe do fim desta caminhada e tinha essa consciência porém agora também detinha a certeza que não estava a percorrê-la sozinha e que no final das contas e com o amor dele iria reagir.