A carta
Seria uma manhã igual a todas as outras, não fosse aquele envelope, que o tempo pintou de amarelo, se ter amarinhado nos seus pés.
Apanhou-o do chão em quanto olhava em volta na tentativa de reconhecer a procura do seu dono no meio da multidão que ali passava.
Não resistiu e abriu-o.
“Minha amada, conto os minutos até ao nosso reencontro, até o teu sol voltar a iluminar a minha vida...” Este era o início de 5 folhas.
Olhou para o relógio e para não variar estava atrasada mas mesmo assim não resistiu em continuar. “aqui os dias são intermináveis sem a tua presença...”
Nunca ninguém lhe tinha escrito ou dito tamanha declaração de amor. Num rompante escondeu o molho de papéis na mala. Voltou a olhar em sua volta mas desta vez com a esperança de não encontrar o verdadeiro destinatário.
Aquelas palavras agora eram só suas. “Musa do meu coração as flores invejam o teu perfume...”.
No meio de tantas passadas, era nas suas que ele tinha de vir parar!
Foi desfiando todo aquele amor ao longo do dia numa sofreguidão como se não houvesse amanhã.
“Minha amada, meu amor...” , “ ...o brilho dos teus olhos é mais reluzente que as estrelas...”, “...se ao menos estivesses aqui...”
E assim foi, dia após dia...
E lia... E relia... Todas as noites...
Na realidade não sabia de quem era aquela letra, nem à quanto tempo fora escrita, muito menos para quem se destinava mas era lhe impossível não se sentir amada em cada linha que lia.
Pensava nos homens que já tinham passado na sua vida e em como nenhum se comparava com este. Era como se tivesse encontrado o amor da sua vida e este lhe estivesse a sussurrar juras de amor ao ouvido.
E estas seriam eternas.